Nem todas as equipes de Fórmula 1 bancam a indigesta parada de dividir seus boxes com dois pilotos de primeiro escalão.
Via de regra a relação tende a azedar depois dos afagos iniciais.
O exemplo clássico foi o duo Prost e Senna na McLaren, em 1988 e 1989.
Um título para cada um e rusgas colocadas à toda prova em 1990, quando Senna sentiu-se vingado jogando Prost (agora na Ferrari) para fora da pista na primeira curva de Suzuka, no GP do Japão.
E 1990 foi um ano bem mais tranquilo para o brasileiro Senna.
Reinando absoluto no time chefiado por Ron Dennis, tendo um companheiro de equipe pra lá de insosso, o austríaco Gerhard Berger.
Nos três anos em que competiram juntos na McLaren-Honda, uma diferença abissal.
Berger venceu três GPs contra 16 de Senna.
Berger marcou 135 pontos contra 224 de Senna.
Senna venceu dois títulos mundiais e Berger, no máximo, foi quarto colocado duas vezes.
O austríaco foi inofensivo para o brasileiro, que deu graças a deus por ter um companheiro tão medíocre ao seu lado.
Às vezes um piloto muito bom, acima da média, pode ofuscar um outro piloto muito bom, mas este não foi o caso.
E Senna foi bastante seletivo sempre que pôde escolher com quem dividiria os boxes.
Na Lotus, por exemplo, vetou Derek Warwick, por temer que o britânico pudesse ser uma pedra em sua sapatilha.
Quando foi para a Williams, Senna não topou que Prost voltasse a ser seu rival na mesma equipe.
Adorou a continuidade de Damon Hill...
E esta não foi uma prerrogativa isolada de um piloto brasileiro.
Nelson Piquet, por exemplo, sempre se blindou muito bem nos tempos de Brabham.
Fez das tripas coração para que Senna não estreasse na Fórmula 1 ao seu lado e, depois de ter Niki Lauda como seu companheiro de equipe, nadou de braçada ao lado de pilotos fraquíssimos, como Ricardo Zunino, Hector Rebaque, Teo Fabi, Marc Surer, Francois Hesnault...
Na Brabham, apenas Riccardo Patrese tinha "garrafas para vender".
Na Williams, sofreu com Nigel Mansell e, no ocaso de sua carreira, foi aposentado por Michael Schumacher, agora na Benetton.
Em síntese, assim como Berger não fez "cócegas" em Senna, Piquet teve pouco trabalho com a legião de pilotos fracos que esteve ao seu lado, exceto por um ou outro.
E Max Verstappen, que parece não temer ninguém, certamente terá mais duas temporadas sossegadas pela frente, em 2025 e 2026, já que o mexicano Sergio Pérez seguirá ao seu lado.
Desde que chegou à Red Bull, em 2021, até o GP de Mônaco deste ano, Pérez venceu cinco corridas.
No mesmo período, Verstappen subiu ao lugar mais alto do pódio em 49 GPs e ganhou seus três títulos mundiais.
Pérez é tão inofensivo para Verstappen quanto Berger foi para Senna.
No final das contas, todos ficam felizes.
As equipes, sem disputas internas, os campeões, que não têm adversários, e os segundos pilotos, que ganham bons salários e nem precisam ser tão rápidos assim...
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