"Infelizmente, nem tudo é... Exatamente como a gente quer..."
O versinho está presente na ótima "Deixa Chover", música do não menos ótimo Guilherme Arantes.
A geração contemporânea, formada por tictokers e influencers, talvez desconheça o termo futebolístico "peneira", que até pode, guardadas as devidas proporções, ser empregado na Fórmula 1.
Sou de uma geração que passou boa parte da infância/adolescência correndo atrás de uma bola, por campinhos de terra, quadras de futebol de salão de cimento ou de taco, e alguns campos de futebol grandões, bem ou mal gramados.
Sempre o primeiro escolhido nas peladas, acalentei o sonho de um dia me tornar um jogador de futebol profissional.
Bom à beça no futebol de salão (futsal foi um neologismo que chegou bem depois), achei que jogar futebol "de campo" seria tão fácil quanto virar a chave do chuveiro, do inverno para o verão.
Ledo engano.
Ainda assim, passei em peneiras no Corinthians, cujo treinador era o Pardilan (fiz um gol em meu jogo de estreia, chutando de fora da área, no icônico terrão do Parque São Jorge), no São Paulo (cujo treinador era o `Seo´ Firmo) e na Portuguesa, esta comandada pelo ex-zagueiro Hermínio.
Na Lusa, tive "carreira" mais longeva, treinando por um ano, com direito a bons coletivos no campo do "Serra Morena", mas acabei, ao término de um ano, não "vingando", ficando de fora da cobiçada inscrição para o ano seguinte.
Tudo o que eu queria era ser federado pela Lusa, mas não fui.
Paciência, a vida me apresentou outros e bons caminhos, embora, por incrível que possa parecer, tenho sonhos realistas de que estou jogando bola no fulgor dos meus 15 anos, em um teste no Canindé ou no terrão do Parque São Jorge...
Pensei em contar minha historinha pessoal para fazer um contraponto com o que vi no último GP de Fórmula 1, na Arábia Saudita.
Na ocasião, às pressas, por conta da impossibilidade de Carlos Sainz disputar a prova devido a uma crise de apendicite, a Ferrari recorreu ao único dos três pilotos que estava disponível, o britânico Oliver Bearman, de 18 anos, que estava no mesmo circuito de Jedá para a etapa da Fórmula 2.
O menino Bearman só fez o último treino livre e em seguida participou da classificação.
Tinha, no breve currículo, participações em dois treinos livres com um F1 no ano passado, com o carro da Haas.
Nunca tinha guiado a Ferrari deste ano.
Nem qualquer outra Ferrari de Fórmula 1.
Saiu-se muito bem, diga-se.
Quase passou ao Q3 na classificação, largou em 11º e fez uma corrida sem erros para terminar em sétimo.
Causou boa impressão em Maranello e, de imediato, o chefe francês Frédéric Vasseur o promoveu a primeiro reserva do time.
Em 2025, a Ferrari terá Charles Leclerc e Lewis Hamilton, e tudo indica que os dois devem correr lá por vários anos.
Então, o que restaria ao aprovado Bearman?
O mais factível, um assento na Haas, já que o time norte-americano tem uma relação estreita com a Ferrari, de quem recebe motores.
Mas nem isso é certo.
E, o fato de ter "passado na peneira" da Ferrari, pode não significar muita coisa para Oliver Bearman.
Como não significou nada para mim ter marcado um belo gol em um longínquo treino de futebol no terrão do Parque São Jorge.
Voltando ao começo, "infelizmente nem tudo é, exatamente como a gente quer"...
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