Tirando uma ou outra surpresa, o Oscar normalmente premia os favoritos.
"Parasita", película sul-coreana, foi uma dessas surpresas neste ano.
Como não sou especialista em cinema, nem fanático pela sétima arte, apenas vou utilizar a festiva noite das estatuetas para fazer alusões àquilo que realmente é minha praia: automobilismo, mais especificamente a Fórmula 1.
Assim, imaginei algumas categorias para premiar os melhores no que poderia se chamar "Oscar da F1".
Sem mais delongas, vamos a elas e seus respectivos vencedores.
Melhor Equipe: Ferrari. O time italiano não é apenas o maior vencedor de títulos (15), mas aquele que detém a maior torcida do mundo em termos automobilísticos. Os italianos nem querem saber qual o piloto que está a bordo de suas máquinas escarlates. O que importa é que a Ferrari vença.
Melhor Piloto: Michael Schumacher. O alemão ainda detém alguns dos principais recordes da categoria, entre eles o número de títulos (sete) e de vitórias (91). Não foi vencedor apenas na fase áurea da Ferrari, mas também antes, guiando pela Benetton, onde levantou dois campeonatos.
Melhor Piloto Coadjuvante: Stirling Moss. O inglês "bateu na trave" em quatro temporadas consecutivas como vice-campeão (1955, 1956, 1957 e 1958). Rápido e talentoso, Moss teve o azar em ter sido contemporâneo de Juan Manuel Fangio, o argentino que foi cinco vezes campeão mundial.
Melhor Carro: McLaren MP4/4. O carro do time de Woking abocanhou 14 das 15 vitórias na temporada de 1988 e largou na pole em 14 dos 15 GPs. O casamento do ótimo chassi projetado por Gordon Murray e Steve Nichols empurrado pelo motor V6 turbo de 1.5 litros da Honda foi praticamente perfeito.
Melhor Chefe da F1: Bernie Ecclestone. O inglês mudou a F1 da água para o vinho. Ainda que polêmico em muitas de suas decisões, ninguém conseguiu ser tão preciso quanto ele para transformar a categoria naquilo que é hoje em dia.
Melhor Chefe de Equipe: Ron Dennis. De uma pequena garagem, onde administrava sua equipe de F2, o inglês rumou para a McLaren, fazendo o time que era bom se transformar em uma potência, montando um estafe de primeira entre os anos 80 e 90 e promovendo o duelo mais nitroglicerínico que a F1 viveu em todos os tempos, entre Ayrton Senna e Alain Prost.
Melhor Projetista: Gordon Murray. Ainda que sejam muitos os nomes que pudessem figurar no topo da lista dos projetistas, o sul-fafricano teve uma sequência de acertos impressionantes na Fórmula 1, desde a Brabham até a McLaren.
Melhor Roteiro de Campeonato: Temporada de 1976. Esta temporada ganhou até um filme de verdade, "Rush". Aquele ano foi absolutamente espetacular, com a disputa entre Niki Lauda e James Hunt pelo título. O acidente de Lauda em Nurburgring, que quase lhe tirou a vida, apimentou a disputa final no GP do Japão, em Monte Fuji.
Melhor Roteiro de Corrida: GP do Brasil de 2008. A vitória de Felipe Massa em Interlagos estava garantindo o título ao piloto brasileiro, então na Ferrari. Na última volta, na subida da Junção, Lewis Hamilton (McLaren) superou o alemão Timo Glock (Toyota), com a pista úmida, e foi ele quem levantou o caneco daquela temporada, em uma corrida decidida literalmente nos metros finais.
Melhor Título: 1957, de Juan Manuel Fangio. A Maserati, mesmo inferior à Ferrari na temporada de 1957, contava com um piloto espetacular, o argentino Juan Manuel Fangio. Ele fez a diferença e terminou o campeonato com quase o dobro de pontos do segundo colocado, seu companheiro de equipe Stirling Moss, conqujistando seu quinto e último titulo na F1.
Melhor Fotografia: Quatro Carros no GP do Canadá de 1976 / Allan De La Plante. Há muitas imagens exuberantes registradas desde 1950 na Fórmula 1. Esta, abaixo, do britânico Allan De La Plante, parece um quadro, com quatro carros diferentes, muitas cores nas carrocerias e um céu azul em degradê ao fundo, contrastando com o cinza do asfalto em Mosport Park.
Melhor Fotógrafo: Mark Sutton. O britânico é quase uma lenda atrás das lentes com seus registros ao longo de décadas de trabalho. Uma breve espiada em suas redes sociais comprova que, de fato, Sutton é um mestre.
Melhor Pastelão: Nelson Piquet x Eliseo Salazar. Os murros desferidos por Nelson Piquet no chileno Eliseo Salazar, no GP da Alemanha de 1982, em Hockenheim, ficaram marcados para sempre como uma das cenas mais pitorescas da história da F1. O brasileiro, então desenvolvendo o motor turbo da BMW de sua Brabham, fazia uma bela corrida, na liderança, após ter largado em quarto, quando se aproximou de Salazar, então retardatário, a bordo da sofrível ATS-Ford. Salazar aparentemente não viu a aproximação rápida da Brabham-BMW do brasileiro e bateu com sua roda dianteira direita na traseira esquerda de Piquet, na aproximação de uma chicane. Nelson desceu furioso do carro e foi para cima de Eliseo, ambos ainda com seus capacete. Piquet deu-lhe uns "sopapos", aos quais o piloto chileno não reagiu. Veja, abaixo:
Anos mais tarde, Piquet e Salazar se reencontraram e posaram para fotos, demonstrando que o episódio era coisa do passado.
Melhor Narrador Nacional: Wilson Fittipaldi, o "Barão". O saudoso narrador, em termos brasileiros, pode ser chamado de "pai de todos", pois ele brilhou desde as primeiras corridas disputadas em Interlagos. Narrou a primeira vitória internacional de um piloto brasileiro (Chico Landi), que ganhou o GP de Bari, em 1948. Apaixonado por automobilismo, o "Barão" idealizou as 1000 Milhas Brasileiras e se emocionou muito ao vivo na locução da vitória de Emerson Fittipaldi no GP da Itália de 1972, ocasião em que o brasileiro conquistou seu primeiro título na F1, pela Lotus.
Melhor Narrador Internacional: Murray Walker. Hoje aposentado, aos 96 anos, o britânico ficou conhecido até das mais novas gerações, pois emprestou sua voz para muitos jogos de F1 para diversas plataformas de videogames.
Melhor Repórter: Reginaldo Leme. O Regi, como carinhosamente é chamado pelos amigos, cobre Fórmula 1 desde o GP da Itália de 1972, corrida que consagrou Emerson Fittipaldi como campeão da categoria pela primeira vez. Reginaldo Leme trabalhou na Rede Globo por 41 anos e deixou a emissora no final de 2019. Embora tenha migrado para os cometários, a maior parte de sua carreira foi marcada pelas reportagens, com destaque para o programa que comandou na Globo, o "Sinal Verde" e todas as matérias veiculadas pela emissora, incluindo o primeiro teste de Ayrton Senna na F1 e o "furo" de reportagem da batida proposital de Nelsinho Piquet para beneficiar Fernando Alonso no GP de Singapura de 2008, quando eram companheiros de equipe na Renault. Atualmente dedica-se, entre outras atividades, ao Anuário AutoMotor Esporte, publicação esmerada que retrata o esporte a motor nacional e internacional.
Melhor Comentarista Nacional: Claudio Carsughi. O "Mestre" viu todas as temporadas de F1, desde a primeira prova, o GP da Grã-Bretanha, disputado em 13 de maio de 1950 em Silverstone. Carsughi, que também é engenheiro, consegue traduzir as informações técnicas de uma maneira absolutamente fácil de ser compreendida, de forma clara e concisa. Atualmente comanda seu site e blog e integra o "Notas do Carsughi",ao lado de Marcos Micheletti, no programa de vídeo do Portal Terceiro Tempo que vai ao ar após os GPs de F1.
Melhor Comentarista Internacional: Damon Hill. O ex-piloto, campeão mundial de Fórmula 1 em 1996 pela Williams, tornou-se um comentarista de primeiríssima (atualmente está na Sky Sports), ponderado e com um nível de detalhamento sobre as corridas, estratégias das equipes e modo de agir dos pilotos.
Melhor Trilha Sonora: V12 da Ferrari de 1995. No vídeo abaixo, de maio de 2014 (no circuito de Monza), é possível ouvir o som do motor de 12 cilindros em "V" que a Ferrari utilizou na temporada de 1995, com sua dupla de pilotos Jean Alesi e Gerhard Berger. O carro não foi brilhante naquele temporada (Alesi terminou o campeonato em quinto e Berger em sexto) e o time fechou a Taça de Construtores em terceiro lugar, atrás de Benetton e Williams, campeã e vice, respectivamente.
Melhor Texto: Flavio Gomes. O jornalista e escritor (com três livros publicados), que comanda o "Grande Prêmio", site especializado em esporte a motor, sucessor do "Warm Up", criado em 1996, passou pela Folha de São Paulo, ESPN e atualmente está no canal FOX Sports. Seus textos não são apenas absolutamente impecáveis acerca do automobilismo, eles superam os limites das pistas, pilotos e equipes, levando a uma leitura deliciosa. Seu primeiro livro, de crônicas, "O Boto do Reno", de 2005, é a prova clara disso.
Melhor Piloto em Potencial: Stefan Bellof. O alemão, que morreu em um acidente de Protótipos durante os 1000 Km de Spa-Francorchamps, em 1985, era apontado como uma das mais brilhantes promessas desde que estreou na Fórmula 1, em 1984, pela Tyrrell. Provavelmente teria sido um dos maiores rivais de Ayrton Senna.
Melhor Primeira Volta em um GP: Ayrton Senna em Donington Park, no GP da Europa de 1993. Senna (McLaren) largou em quarto e caiu para quinto. Porém, antes do término da primeira volta, superou Michael Schumacher (Benetton), Karl Wendlinger (Sauber) e as Williams de Damon Hill e Alain Prost para assumir a lidernça e não mais perdê-la até o final, para vencer no pisto molhado do traçado inglês, condição em que era praticamente imbatível.
Melhor Circuito: Spa-Francorchamps. O mais longo traçado do calendário da F1, na Bélgica, é quase unanimidade entre os pilotos que já estiveram por lá, desafiando a icônica "Eau Rouge" e acelerando forte em longos trechos de retas. A região, em meio a uma floresta, é dona de um clima muito instável e a pista úmida é mais um ingrediente que apimenta as corridas.
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