Nem acho que Fórmula 1 e futebol tenham tantos pontos em comum.
Na verdade, considero que são raras as vezes em que algo de uma modalidade possa ser aplicada à outra.
Em termos dos atletas, entendo que pilotos de carros (incluindo os da Fórmula 1), se assemelham mais aos tenistas.
Embora estes últimos só dependam da raquete e da bolinha, diferente do piloto, quase um escravo de seu carro e consequentemente de seus engenheiros, mecânicos e chefe de equipe, tanto tenistas quanto pilotos precisam ter equilíbrio emocional.
É condição sine qua non para minimizar lambanças.
Quebradores de raquetes invariavelmente ficam pelo caminho.
Sem contar o aparente bonzinho, que não costuma quebrar raquetes mas que não se vacina. Um pária.
E esqueçam o modelo de piloto que tenha um emocional abalável facilmente, que xinga o engenheiro pelo rádio e faz biquinho na coletiva após ter tomado uma ultrapassagem do companheiro de equipe.
Frieza é essencial.
Freios, curvas e ultrapassagens são pouco tolerantes a intempestuosos de plantão.
No futebol, quando as coisas não andam bem, demite-se o treinador.
É o caminho mais fácil, mesmo se o elenco for medíocre e indolente.
Claro, também há uma enxurrada de treinadores medíocres e indolentes.
Pululam "professores pardais" de norte a sul do País...
A Ferrari, que é como um clube gigante de futebol, daqueles que tem torcida exigente, achou que o problema estava em seu chefe de equipe: Mattia Binotto.
Alguém como ele é mais um gerenciador de crises do que de qualquer outra coisa.
E, cá entre nós, em matéria de crise, a Ferrari tem sido insuperável ultimamente...
Binotto nunca se sentou diante de uma prancheta para desenhar um carro e não entende patavinas de aerodinâmica.
Ele é um engenheiro, de boa formação, diga-se, na área de motores.
Mas deixou esta função, que ocupava na própria Ferrari, para assumir a direção técnica do time de Maranello em 2016, algo que ele nunca havia feito.
Em um jejum de títulos que dura desde 2007, ano em que Raikkonen levantou o caneco de pilotos, a Ferrari até flertou em voltar a ser campeã em 2017 e 2018 com Vettel.E também em em 2022, com Leclerc.
Verdade seja dita, o infortúnio da perda do título em 2018 deveu-se mais a Vettel do que ao carro. O alemão jogou uma vitória no lixo, batendo sozinho no GP da Alemanha, em Hockenheim, no meio da temporada. Depois daquilo, Hamilton nadou de braçadas enquanto Vettel, abatido, entrou em um tsunami emocional.
No caso de Leclerc, o time começou o ano muito bem, mas o carro não evoluiu tanto quanto o da Red Bull, fora alguns tropeços do próprio monegasco, sempre demonstrando a instabilidade emocional pertinente aos não campeões.
Em 2023, após dois GPs realizados, Bahrein e Arábia Saudita, nenhuma novidade em relação à protagonista, a Red Bull.
A Aston Martin fez um ótimo trabalho e está se candidatando para ser a segunda força.
E a Mercedes, mesmo claudicante, mantendo conceitos do fracassado W13, seu carro do ano passado, ainda consegue estar melhor que a Ferrari entre os Construtores.
Leclerc é talentoso, mas não aposto um dólar furado em seu equilíbrio emocional.
Sainz é mediano, piloto nota 6,0, no máximo.
Uma espécie de David Couthard ou Gerhard Berger, nada além disso.
Assim, parece claro que o problema maior da Ferrari na Fórmula 1 não era seu diretor técnico, no caso, Mattia Binotto.
A engenharia de Maranello, claramente está em estágio inferior aos concorrentes.
Eu, se fosse o insosso Frédéric Vasseur, que agora ocupa o lugar de Binotto, começaria pedindo para o departamento pessoal dar uma olhada nos contratos de Leclerc e Sainz.
Viraria a mesa e mandaria os dois embora.
Logo depois, faria uma sessão de "caça às bruxas" no departamento de engenharia.
A Ferrari é mais ou menos como o Corinthians ou o Flamengo.
Precisa ser "chacoalhada" de vez em quando, para ver se pega no "tranco".
O carro deste ano, literalmente, parece mesmo estar precisando disso...
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