Assim que estreei no Portal Terceiro Tempo, em 10 de março de 2009, e comecei minha familiarização com a rotina de trabalho do site de Milton Neves, tracei alguns objetivos para um prazo não muito distante.
Elaborei um roteiro para chegar aonde eu queria.
O contrário do título de uma música linda que ouvi outro dia pela primeira vez e me serviu de inspiração para esta crônica: "Sem roteiro", no dueto afinado entre Mariana Rios e Carlinhos Brown.
Incialmente minha tarefa seria quase braçal, coisa de repassar os textos de uma plataforma que estava sendo substituída para outra, mais moderna.
E também as fotos, milhares, muitas sem legendas, da famosa seção "Que Fim Levou?", o xodó do Milton.
Comecei a tomar gosto por escrever desde as gravuras que minha querida professora do 2º ano do Primário, a Dona Mitsy, colocava na lousa e pedia para que fizessemos "composições", aquilo que hoje chamamos de redações.
Lembro bem de uma dessas gravuras, pintada em madeira como todas as outras que ela guardava no armário que ficava no fundo da sala de aula, em que um menino andava de bicicleta por uma paisagem verdejante.
Escrevi uma história triste, um contraponto à imagem fulgurante da gravura, em um roteiro bem construído que a Dona Mitsy gostou muito, a ponto de pedir para que eu a lesse para toda a classe.
Ao término da leitura ela me chamou para mais próximo de sua mesa e susurrou no meu ouvido direito:
"Marcos, nunca deixe de escrever, está bem?"
Voltei entorpecido de felicidade para o meu lugar, a segunda carteira da fileira do meio, e tentei seguir seu conselho, embora escrever seja uma tarefa árdua, inglória mesmo, que por muitas vezes me faz mergulhar em um baú empoeirado de recordações, nem todas tão boas assim.
Voltando a 2009 e às fotos que eu precisava legendar...
Um jogador famoso em um campinho de várzea rendeu um bom texto, assim como um acanhado estádio cercado por montanhas no interior de Minas Gerais.
Conquistei o coração do homem de Muzambinho com esse capricho.
Daí, comecei a construir, tijolo por tijolo, o caminho para criar uma área de automobilismo no site.
Quem me acompanha sabe do que estou falando, e nasceu o Bella Macchina e todos os seus desdobramentos.
Este espaço cresceu o suficiente para que eu "batesse na trave" da minha 150ª entrevista, que só não aconteceu ainda por conta da pandemia.
E, desde que o esporte a motor (como diz Milton Neves) ganhou corpo, fui tentando um jeito de estar presente para cobrir um GP de Fórmula 1 em Interlagos, um lugar tão especial para mim.
Levei um baita susto em 2010, quando me deparei com tudo que era pedido pela FIA para a empreitada.
Para encurtar a história, só consegui receber minha credencial de estreia de F1 em 2019.
Saboreei cada minuto em Interlagos entre 14 e 17 de novembro do ano passado.
A foto inicial, que ilustra este texto, ressalta bem essa minha satisfação, sem falsa modéstia, provavelmente o sorriso mais bonito que eu já tenha dado na vida.
Talvez meus olhos verdes nunca tenham brilhado igual, nem minhas covinhas se pronunciaram tão abissais em um oceano de alegria.
Acostumado a tantas cobertura por lá, na Stock principalmente, minhas retinas foram apresentadas a um outro mundo.
Um planeta até então inexplorado por mim, que eu sonhava existir atrás dos boxes quando acompanhava as corridas pela televisão.
Pilotos perambulando de um lado para o outro, o Bernie Ecclestone posando comigo para uma foto e me dando um aperto de mão, um almoço na Merdedes, um café espresso na Ferrari... Está tudo aqui.
Foi melhor do que eu imaginei.
Um deleite. Um pudim com chantilly.
Mas ando meio ressabiado ultimamente...
Demorou tanto pra eu conseguir isso...
E agora, neste ano pandêmico, a chance para que o GP do Brasil aconteça é mínima.
E depois?
Sabe-se lá...
Será que eu fui o pé frio?
Será que nunca mais a Fórmula 1 estará em Interlagos?
Minha primeira vez terá sido também a última?
Talvez...
Dizem que as melhores coisas da vida são assim mesmo, efêmeras.
ABAIXO, "SEM ROTEIRO", COM MARIANA RIOS E CARLINHOS BROWN
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