Assim que vi o anúncio oficial da Ferrari nesta semana, de que ela disputaria seu GP 1000 com a pintura do primeiro carro que produziu para corridas, percebi que o "fio da meada" para minha crônica semanal estava pronto para ser puxado do novelo.
O modelo, de 1947, era o 125 S, impulsionado por um grandalhão motor de 12 cilindros, mas com parcos 118 cavalos de potência, uma ninharia se comparado a qualquer carrinho moderno 1.0 de três cilindros com turbo.
Depois deste, a Ferrari se lançou ao Mundial de Fórmula 1, a partir do segundo GP da temporada de 1950, em Mônaco.
A cor, em seu nome original, Burgundy, na tradução, Borgonha.
Nada mais do que cor de vinho, entenda-se.
Borgonha, curiosamente, é uma região da França, e não da Itália.
Dizem que a região da Borgonha é boa à beça na qualidade dos vinhos.
Sou um zero à esquerda em matéria de degustação alcoólica.
Não bebo nada, absolutamente nada que contenha álcool.
Nunca gostei.
Mas sou suficientemente bem informado para saber o porquê de algumas garrafas custarem os olhos da cara.
O francês Petrus, por exemplo, é uma espécie de Rolls-Royce dos vinhos.
E o Romanée-Conti, outro gaulês, está mais ou menos para a Ferrari.
Acho engraçado, para não dizer deprimente, quando entro no narcisístico mundinho do Instagram e vejo algumas fotos de taças e garrafas legendadas com "tomando um bom vinho".
A palavra vinho sempre vem precedida do adjetivo "bom".
Ninguém toma um "mau" vinho.
Pelo menos quando posta no "Insta"...
É preciso valorizar o conteúdo para os aparvalhados seguidores...
Meu saudoso pai costumava contar uma história bacana sobre a versão bíblica para a origem do vinho, de que Deus incumbira Noé de plantar sementes de uva, atestando que daquela fruta seria produzida uma bebida que curaria todos os males.
Um menino, que na verdade era o diabo encarnado em corpo infantil, se ofereceu para regar a plantação.
Mas, demoníaco como só, ao invés de utilizar água, fez uso do sangue de quatro animais: carneiro, leão, macaco e porco.
Por isso, segundo reza a lenda, aqueles que abusam do vinho tem reações que se assemelham aos quatro bichos.
Ou ficam mansinhos como carneiros, ou valentões como leões, ou arteiros como os macacos ou passam mal, sujando tudo, em alusão aos porcos.
A alegoria parece ser mesmo bem fiel à realidade, e vale para qualquer porre, de vinho ou outra bebida.
Bom, mas deixando a enologia de lado e dando um pontapé nos fundilhos de Baco e voltando ao mundo da velocidade, foi uma "bola dentro" da Ferrari esta da cor especial para sua milésima corrida na F1, justamente em seus domínios, no circuito de Mugello, na prova batizada de GP da Toscana.
A Ferrari vem de uma sequência de bobagens, para dizer o mínimo.
Primeiro o motor, fora do regulamento no ano passado.
A FIA fez vistas grossas e não puniu o time. Sim, há caroço nesse angu...
Então, com um motor "normal", a SF1000 está se arrastando em 2020...
A outra, ter anunciado antes do início da temporada, a não renovação de contrato com seu piloto tetracampeão, Sebastian Vettel.
Sim, ela tinha todo o direito de não querer ficar mais com ele, mas não da forma como fez.
Dá a impressão de que a decisão dos dirigentes tenha sido tomada após várias taças de vinho.
E, como na versão bíblica, ficaram valentões como leões e fizeram uma baita sujeira depois, como os porcos...
Vettel, sóbrio como quem não tomou nenhum gole de vinho, sorveu bem o amargor da decisão da cúpula de Maranello.
A vingança, dizem, é um prato que se come frio, e ele já garantiu assento para 2021, na Aston Martin.
A Ferrari trocou o vermelho, que ultimamente vinha sendo de vergonha, pelo vinho...
Vettel, por sua vez, vestirá o verde do novo time.
Verde da esperança.
Pois é, ele tem a faca e o queijo nas mãos para dar a volta por cima.
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