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"Tem diretor que estraga novela", diz Benedito Ruy Barbosa
Flávio Ricco
Colunista do UOL*
Benedito Ruy Barbosa será o convidado da série “Donos da História”, neste domingo, às 18h30, no Viva. A sua entrevista é considerada internamente uma das melhores do programa.
Responsável por inúmeros sucessos do gênero em diferentes emissoras de TV, Benedito, como sempre, é muito transparente nas suas colocações e chega a declarar em determinado momento que “tem diretor que estraga a novela”.
Segundo ele, os problemas entre aquele que escreve e quem dirige são sempre muito comuns:
“Sempre, porque o diretor é o homem que lida com o elenco, que lida com o seu texto. Se ele tiver uma boa leitura daquilo que você escreve, você está sossegado. Se ele não tiver, você está roubado! Tem diretor que estraga a novela. Isso, estamos falando aqui, sem citar [nomes], porque não há quem citar. Nenhum diretor estragou novela minha, graças a Deus! Mas o Luiz Fernando Carvalho [diretor dispensado pela Globo, após `Velho Chico´ ele acrescenta”.
Benedito também revela que se emociona durante o desenvolvimento de seus folhetins:
“Costumo dizer que, quando estou escrevendo uma novela, ou roteiro de cinema, seja o que for, me comovo no computador, antes, na máquina de escrever. Se eu me comovo, nunca prendi lágrima nem riso. O riso e o pranto fazem parte da vida da gente”.
E conclui:
“Mas sempre digo que quando choro escrevendo uma cena, por já imaginar a cena sendo feita, imagina os atores falando o meu texto? O ator chora quando recebe o texto e vai decorar. E o público chora em casa quando vê. Então, não sou eu que sou emotivo, não. Nós somos, todos. Dependendo do que acontece na frente da gente”.
Atualmente, o autor trabalho na sinopse da novela “O Último Beijo”, para a faixa das sete da noite.
*Colaboração de José Carlos Nery
ABAIXO, TEXTO DE CAIRBAR DE SOUZA SOBRRE A PRESENÇA DE BENEDITO RUY BARBOSA EM MUZAMBINHO, NA ÉPOCA DA GRAVAÇÃO DA NOVELA "O REI DO GADO", EM 1994
Por Cairbar Alves de Souza
OLAVO BARBOSA - 4ª Crônica I
Dando continuidade ao programado, vamos reproduzir mais uma crônica da vida vitoriosa de OLAVO.
A visita de Benedito Rui Barbosa.
Em um sábado pela manhã do ano de 1994, o colunista recebeu nas instalações da Exportadora a visita do renomado escritor Benedito Rui Barbosa (foto). Olavo tinha compromissos e, por isso, incumbiu-o de recepcionar o escritor.
Ali pelas 09h00 chegaram o escritor acompanhado do radialista muzambinhense Milton Neves, que veio com seu irmão Homero. Tive o prazer de correr com os visitantes todas as instalações do escritório e armazéns da Exportadora. Os visitantes ficaram impressionados com o que viram: todos os procedimentos de beneficiamento do café e as instalações dos armazéns.
Como Olavo tinha um compromisso anteriormente marcado, apenas à tarde iria encontrar os visitantes já na Fazenda São José, nos cafezais e na parte de beneficiamento do leite, que à época eram extraídos cerca de 50 mil litros de leite A.
Depois da visita às instalações, fomos os quatro almoçar no Restaurante Gaveah, do primo do colunista, já falecido, José Maria, o Garrincha, no hotel onde está instalado hoje o Marambaia.
Depois do almoço, fomos direito para a Fazenda São José, onde, por volta das três horas da tarde, encontramos o Olavo já nas instalações do beneficiamento do leite, depois de visitar os cafezais.
Àquela época, não sei se prevalece ainda hoje, mas os visitantes eram fotografados e escreviam suas impressões sobre o local, em um livro denominado “livro de ouro”. Foi quando o Benedito começou a chorar copiosamente. Todos ficaram em silêncio e atônitos com a inusitada situação. Depois de muito chorar, o escritor pediu desculpas pelo acontecido e justificou o choro. Disse ele: "Fiquei extremamente emocionado, porque jamais pensei que no Brasil pudesse existir um complexo como este, que nós não vemos até no exterior", de produção de leite A. Via-se que a emoção tomou conta daquele local. Aí começou uma amizade duradoura entre Olavo e o escritor, advinda daí a inspiração para as filmagens da famosa novela O Rei do Gado, um dos maiores sucessos que a Rede Globo obteve nessa área de produção, tanto que recentemente foi reproduzida na série Vale a pena ver de novo, também com o mesmo êxito.
Inspirado no personagem marcante de Olavo, o drama transcorreu repleto de emoções. As filmagens se deram nos armazéns de café da Exportadora, nos cafezais das fazendas e na área de beneficiamento do leite A.
Os dois, agora amigos, se falavam constantemente.
Durante as filmagens, a Rede Globo, que só pensa em lucro, obrigou o escritor a fazer merchandising também do leite B, quando apareceu uma Cooperativa de Leite B, à revelia do escritor, que não desejava fazê-lo. O escritor impôs então à Globo: far-se-ia a propaganda do leite B, mas a partir daí iria aparecer o logotipo da marca do leite A e do café da Exportadora em todas as filmagens e de graça para o Olavo. E isto foi feito. Tal fato, como não poderia deixar de ser, resultou em um lucro fabuloso para o leite A, já que a produção passou a não dar conta do mercado consumidor de São Paulo e do Brasil, tal a procura pelo mais famoso leite A do Brasil.
Durante a visita do escritor, propus-lhe o que ainda não havia sido feito e nem sei se será. Pedi-lhe que escrevesse um romance sobre o café, nos moldes que o famoso escritor baiano Jorge Amado fez com o cacau, produto que nunca chegou a competir com o café brasileiro. E o sucesso, não apenas em livro, como Gabriela, Cravo e Canela modificou toda a sistemática das novelas do Brasil e da rede Globo, que a lançou em 1975. Ninguém esquece a performance de Sônia Braga e os demais componentes da novela.
Foi dado um mote para o escritor: àqueles dias, houve um desastre de avião em Guaxupé, quando o conhecido e hábil instrutor Gabriel Arcanjo Baise, o Bié Baise, muito amigo do Olavo, havia falecido em companhia de um aluno, filho de uma família de fazendeiros de café. O jovem que faleceu no desastre tinha uma namorada que, por ocasião da morte dele, encontrava-se grávida, esperando um filho do jovem. O motivo, como se observa, era bastante interessante e daria um romance de realce para a área do café, como aquele do Jorge Amado fez para o cacau.
Continuamos na expectativa de que alguém se inspire e faça um livro/romance sobre o café, que tanta importância possui na história da rubiácea, que tanto influiu e ainda influi no mercado do agronegócio brasileiro, sendo um dos principais produtos de consumo no Brasil e no mundo.
Se algum outro escritor quiser, faça-o e prestará enorme contribuição ao café e à cultura do Brasil.
Cora Coralina, a poeta goiana, assim registrou no seu poema Visitas, o hábito de servir café, no começo do século 20:
"Chegavam visitantes à fazenda.
As notícias... novidades, assunto da terra,
Gados, criação, preços, mercado de Goiás, safra,
roça, paióis, doença.
Corríamos a fazer café, oferta de praxe.
depois, aquelas conversas infindáveis, invariáveis,
coisas da lavoura. Previsão de colheitas, situação das roças,
produção dos engenhos, doenças.
Cobras também eram assunto".
Até logo, à quinta crônica!
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