“Em briga de família ninguém tem 0% ou 100% de razão”, decreta o jurista Sergei Cobra Arbex

“Em briga de família ninguém tem 0% ou 100% de razão”, decreta o jurista Sergei Cobra Arbex

Ontem foi Pelé, hoje é Neymar, em situações diferentes, mas com desgastes igualmente complicados e de enorme repercussão.

E eu abordo Pelé e Sandra.

“Pelé renegou a filha”.

“Pelé é o maior da bola e o pior dos pais”.

“Pelé traiu a filha”.

“Pelé nunca fez nada pela filha”.

“Pelé deixou a filha morrer à mingua”.

E na internet teve até anônimo há anos insinuando uma miragem, sonhando com uma entrada do Rei no hospital em que Sandra estava internada, portando uma seringa e injetando nela um líquido com “sangue contaminado de câncer”.

E existem outros trocentos delírios neste sentido, quase todos fantasiosos e maldosos.

E já imaginaram o Rei “escondido” em qualquer lugar ou naquele hospital?

Nem de burca ele escaparia de grande concentração popular.

Mas vamos ao que ocorreu nos dias 27 e 28 de março de 2009.

Fui convidado para integrar comitiva composta por Pelé, assessor Pepito, empresário Joel Malucelli, dono de jatinho, cedido gratuitamente, e de diretores do “Hospital Pequeno Príncipe”, de Curitiba-PR e do exterior.

 

Durante o voo, diversos assuntos foram abordados. Inclusive o "Caso Sandra"

E eu estava com o braço quebrado e meu filho Netto Neves também foi e voltou conosco.

Lá, fomos acompanhar o Pelé quando ele inaugurou duas amplas alas completas e equipadas para atendimento de crianças carentes portadoras de câncer.

Daí o nome “Pequeno Príncipe”, batizado por um Rei.

Na inauguração do Hospital Pequeno Príncipe, conversamos com a imprensa e com convidados

E já no voo de ida calhou de representante estrangeiro tocar no assunto “Sandra e filhos”, em analogia ao belo gesto do Pelé estar ajudando pessoas de pouca idade, a mesma de seus netos.

Começando com um “bem lembrado”, Pelé dirigiu-se a mim dizendo “até hoje ninguém sabe toda a história envolvendo minha filha. O que houve é que fui um dia procurado e me contaram sobre uma suposta filha minha. Conversei normalmente sobre o assunto e ponderei que aquela era a terceira ou quarta pessoa a imaginar ou verificar se eu era pai de outras crianças. Nenhuma vingou. Aí, pedi fotos da Sandra e de cara senti que ela realmente se parecia comigo”.

Foram relatados detalhes (contados pela mãe de Sandra), nomes e a época do fugaz namoro dela com o Rei, que disse ser muito possível, sim, “pois naqueles tempos todos nós namorávamos muito”.

Anísia Machado (falecida em 2014) e a bebê Sandra Arantes do Nascimento, no início dos anos 60

“Fizemos um acordo e, claro, pedi para que toda documentação fosse elaborada. Mas, depois disso, a relação com alguns interlocutores passou a não ser mais tão amistosa, principalmente quando o genro entrou na história. Algumas cobranças, aparentemente incluindo também cobranças financeiras, soavam como chantagem, na base de `o público vai saber´. Me senti pressionado. Os encontros, aí com advogados dos dois lados, passaram a ser mais formais, longe de uma relação de pai para filha, com o agravante que a Sandra já era mãe”.

Nesta etapa, a documentação de Sandra Regina Machado já era esboçada, acabou sendo aprovada pela Justiça e Pelé arca até hoje pela condenação do “Superior Tribunal Popular Federal”.

Em 2006, ano de sua morte, Sandra tentou uma vaga como deputada estadual. Ela já tinha sido eleita vereadora de Santos por duas vezes (2000 e 2004)

E culpa os interlocutores de Sandra por muita intransigência.

Mas voltando ao jatinho do Hospital Pequeno Príncipe, dentro do qual ouvimos o desabafo do Rei.

Do aeroporto direto para o Hotel Bourbon e cada um para seu quarto.

No fim de tarde, liga em meu quarto o Pastor Ozeas Felinto, marido de Sandra.

Educadamente pediu para ver o Rei e apresentar os dois netos a ele.

Puxa, “aprovei” na hora, porque achava que esse caso já estava superado e que o Pelé abraçaria os moleques e seria bem amável, tinha esta certeza.

 

Em seguida, desci com meu filho uns 15 minutos antes do previsto para a ida ao evento, e “ficamos de guarda” no saguão.

Milton Neves ao lado de Octavio e Gabriel, netos de Pelé, e Ozeas Felinto, ex-genro

E chega o Pelé, emoção geral e o Rei diz para mim: “Vamos, Miltão”.

“Péra aí, Pelé, vou te apresentar seus netos ao lado do pai deles”, falei.

Pelé olhou para mim como ele olhava com raiva e ódio para certos zagueiros cavalos que o caçavam.

Não pelos meninos, mas por ter revisto depois de anos genro, para ele, um dos responsáveis pela relação conturbada que teve em relação ao “Caso Sandra”.

Mas logo voltou ao normal, abraçou e tirou fotos com os netos na primeira vez que os viu.

Pelé foi muito amável com os netos, mesmo sem ter boa relação com o ex-genro

A primeira vez que Octavio e Gabriel viram o avô

O saguão, surpreso e boquiaberto pela cena inédita, também notou que o rosto do Rei voltou a ficar ríspido quando o pastor pediu para ir ao evento que reuniu cerca de 800 pessoas em anfiteatro de Curitiba com presença também do senador Álvaro Dias.

“Você não”, disparou o Rei e deixamos o hotel.

A inauguração do Hospital Pequeno Príncipe foi um sucesso, com o Rei tirando "milhões" de fotos com seus fãs

Na volta, no avião, ele disse da alegria por ter conhecido seus netos, que nunca os representantes de Sandra tinham levado para os encontros.

E frisou: “Sempre quis muito bem minha filha e meus netos, mas os interlocutores, inclusive meu ex-genro, não”.

Pelé falou sobre o primeiro encontro com os netinhos na volta para São Paulo

Por fim, consegui contato com Ozeas Felinto, que foi casado com Sandra, que comentou o seguinte sobre o assunto:

“O que aconteceu nesse caso todo foi falta de comunicação. Primeiro eu quero te dizer que a Sandra nunca recebeu ajuda alguma do senhor Edson Arantes. Nem um copo de água. Essa situação que o senhor Milton Neves esteve com o Pelé, lá em Curitiba, eu me lembro de ter levado os meus filhos para apresentá-los ao avô. A Sandra já tinha falecido. Mas enquanto a Sandra estava viva, quem cuidou da Sandra foi a mãe dela, trabalhando como doméstica, e o Pelé nunca deu ajuda. O Pelé começou a dar algum recurso agora para os meninos (filhos de Sandra). Porque eu entrei com uma ação para que os meninos tivessem pelo menos as faculdades pagas por ele. Para que eles pudessem ter uma vida um pouco melhor. E o Pelé dá uma pensão, realmente. Após uma ação que ganhamos na Justiça. Mas eu nunca pedi nada quando a Sandra estava doente, e muito menos a Sandra. Nem o afetivo, muito menos financeiro. Eu desconheço isso. Toda ajuda foi dada após a morte da Sandra, e sempre para os meninos. Ele dá hoje cerca de R$ 3.500 para cada neto e paga a faculdade dos dois. Só isso.

E eu tentei, para que essa história tivesse um final feliz, aproximar os meninos do senhor Edson. Mas ele acha que dando essa pensão ele já resolve a situação. Me lembro também que quando a Sandra estava na UTI, eu estive na casa da irmã do Pelé (Lúcia). Ela ficou de falar com o Pelé, acredito que tenha falado, mas ele não foi. Foi a única coisa que pedimos. Para o Pelé visitar a filha dele na UTI. Esse foi o único pedido”.

Conclusão?

“Em briga de família ninguém tem 0% ou 100% de razão”, decreta o jurista Sergei Cobra Arbex.

Foto mais recente dos netos de Pelé ao lado do pai, Ozeas, e da madrasta, Cristiane (reproduzida do Facebook)

 

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