Zé Carlos e Milton Neves na sede do Terceiro Tempo em outubro de 2025. Foto: Thiago Tufano Silva/Portal Terceiro Tempo

Zé Carlos e Milton Neves na sede do Terceiro Tempo em outubro de 2025. Foto: Thiago Tufano Silva/Portal Terceiro Tempo

Campeão paulista em 1978 com o Santos, o ex-volante Zé Carlos, de 67 anos, ainda fala de futebol com o mesmo ímpeto com que marcava os atacantes na Vila Belmiro. Mineiro de Pouso Alegre, ele foi daqueles marcadores que não davam espaço nem para respirar.

“Eu não dava distância. Quando a bola chegava, `tum`, acabou! Era no tempo, no toque. Se desse meio metro, o cara girava e você ficava vendido. Hoje em dia tem muito zagueiro que espera o atacante pensar, ajeitar o corpo... aí já era! No meu tempo, não tinha essa de esperar. Era antecipar e dividir com vontade”, lembrou, entre risadas, em entrevista concedida na sede do Terceiro Tempo na última terça-feira (21).

Revelado pelo Santos, José Carlos do Nascimento fez parte do grupo que encerrou um jejum incômodo do clube, conquistando o Paulista de 1978, quatro anos depois da aposentadoria de Pelé. Passou ainda por Náutico, Ferroviária, São Bento, Juventus, Portuguesa Santista, São José e Ituano, antes de se aventurar no exterior (Louletano, em Portugal, e Tokyo Gas, no Japão).

“Em 1995, um dirigente japonês me disse: `em 50 anos o Japão vai ser campeão do mundo`. E olha, eles não falam isso da boca para fora. É persistência! Trabalham pensando lá na frente. As meninas já foram campeãs, e o Endo Yasuhito, que eu tive o prazer de ver começando no futebol, jogou três Copas. Eu fico orgulhoso, porque vi esse menino crescer. O Japão é um exemplo de como o futebol se constrói com paciência”, analisou.

O craque japonês Endo e seu

Zé Carlos e Endo Yasuhito, seu "pupilo", que disputou três Copas do Mundo pela seleção japonesa

Formado em Educação Física em 1985, Zé Carlos também virou treinador. Trabalhou no próprio Tokyo Gas, no Ituano, no Sul Minas e no Kajitsu FC, além de quase duas décadas atuando com as categorias de base no Japão.

Exaltado por seus atletas após mais um resultado expressivo no futebol japonês

Sobre a função do volante, posição que conhece como poucos, Zé Carlos segue a máxima de que a marcação vem antes da firula.

“Na minha época, marcação era comigo. Eu não avançava, ficava ali na sobra, limpando a área. Hoje o volante deixa o cara pensar, fica olhando, cercando. Tá morto! No futebol, se você deixa o adversário pensar, acabou. Eu aprendi isso com o Zito, com o Ramos Delgado, com o Pepe. Eles falavam: `quem chega primeiro na bola é quem manda`. Hoje o pessoal corre bonito, mas marca pouco”.

Zé Carlos também se diverte ao lembrar nomes de peso que enfrentou no decorrer de sua carreira.

“Peguei pedreira (risos). Sócrates, Zico, Zenon, Raí, Jorge Mendonça, Renato... era um atrás do outro! O Zico era impressionante. Se deixasse ele de frente, ele escolhia onde botar a bola. Então o segredo era não deixar girar. O Sócrates era duro de marcar porque pensava rápido. Tinha um toque diferente, levantava a cabeça e achava o passe de calcanhar. Hoje não tem jogador assim, com essa inteligência de jogo”.

Zé Carlos também recorda com saudade, e certa ironia, os tempos da base santista e a rivalidade com o Corinthians.

“No Santos, usar calção preto era tabu! O pessoal falava: ìsso é coisa de corintiano!`. Era uma rivalidade muito forte, até na molecada. Em 1978, a gente perdeu a semifinal da Copinha para o Corinthians, 1 a 0, gol do Rubinho. Mas aquele time era muito bom. Tanto que dez daqueles garotos subiram para o profissional e, no mesmo ano, fomos campeões paulistas. Eu tenho orgulho de ter feito parte disso”.

Nessa formação do Peixe, está o querido Zé Carlos

Mesmo longe dos gramados, o ex-zagueiro segue atento ao time da Vila Belmiro. E, claro, preocupado com o momento do Peixe.

“Falta força no ataque. É só cruzamento. Centroavante não segura uma bola. E a tabela é dura demais: Botafogo, Flamengo, Palmeiras... vai ser sofrimento até o fim! O Santos precisa recuperar aquele espírito de luta, de não desistir nunca. Futebol é atitude.”

Perguntado sobre Neymar, Zé Carlos não se esquiva.

“Joga muito, isso ninguém discute. Tem visão, técnica, inteligência... mas só ele não vai resolver. Futebol é coletivo. Quando ele chama para si e segura a bola demais, os caras arrebentam. E o corpo já não responde igual”.

Aos 67, Zé Carlos mora novamente em Pouso Alegre-MG, onde foi secretário adjunto de Esportes e mantém um projeto social com jovens atletas.

De lá, segue ativo e requisitado. Foi convidado para dois eventos de ex-jogadores em novembro: um da CBF, que será realizado em São Paulo-SP no dia 26, e outro em Sorocaba-SP, no dia 29, com homenagem a Milton Neves. Motivo que o levou a visitar a sede do Terceiro Tempo na última terça-feira (21).

"Além de matar a saudade, vim trazer este convite ao Miltão! Muito bom bater um papo com ele e ver que está bem, recuperado, e voltando a trabalhar”, concluiu o marcante ex-jogador santista.

Bate-papo entre Zé Carlos e Milton Neves, em 21 de outubro de 2025, na sede do Terceiro Tempo em São Paulo-SP

 

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