Em uma das tardes em que eu entrevistava Pelé para a sua biografia “Segundo Tempo, de Ídolo a Mito”, ele disse que para ele o grande jogo era Santos e Corinthians. Havia paixão, rivalidade, duas torcidas enormes e uma expectativa anormal da imprensa. Os dois times vão se encontrar novamente na próxima quarta-feira, mas o mundo e o futebol mudaram. Hoje não há mais liderança nem orgulho, apenas o desespero de evitar vexames maiores.
O Corinthians ainda tem um grande e belo estádio e a segunda maior torcida do Brasil; mas o nosso Santos, temos de admitir, vive um momento perigoso, limítrofe talvez, em que tem perdido no campo e fora dele. Suas ambições diminuíram, assim como sua torcida. Ou se tomam, medidas definitivas agora, ou a agonia só vai aumentar.
Um clássico que podia ser definido como “a maior rivalidade alvinegra do futebol“, que tinha Pelé de um lado e Rivellino do outro, só para falar de dois dos inúmeros protagonistas deste espetáculo centenário, agora vive de jogadores jovens, no máximo emergentes, e de veteranos em busca de recuperação.
A esperança, eterna, é a paixão renascida de velhos e novos torcedores. Sim, para alguns o próximo grande jogo será o primeiro que verão e ficará guardado na memória por toda a vida. Esse é um dos milagres do futebol, capaz de guardar para sempre na memória e no coração do torcedor lances de uma partida que talvez seja indigente para todos, menos para ele, menos para nós.
Imagine se Neymar puder voltar e marcar um gol, mesmo de bola parada. Quem sabe, olímpico. Imagine se, do outro lado, Yuri Alberto, para sempre um Menino da Vila, cometer a ingratidão de decidir o jogo contra o time que o revelou (brincadeira, corintianos, sucesso ao Yuri, bom garoto).
Quem vai jogar, quem não vai, como os técnicos armarão seus esquemas táticos, como Vojvoda armará o problemático sistema defensivo do Santos, como se portará o Alvinegro da Capital contra o time que lhe impôs o mais famoso tabu do futebol brasileiro (11 anos sem uma única vitória, pelo então prestigiado Campeonato Paulista).
Bem, estes são temas que meus colegas de mídia esportiva esmiuçarão nos próximos dias. Eu não consigo pensar em outras coisas a não ser nos caminhos para que Santos e Corinthians voltem a ser não apenas dois grandes rivais, mas dois times e clubes realmente grandes, organizados, poderosos, que justifiquem a preferência de Pelé. Dois times entregues de corpo e alma ao jogo de suas vidas, ao Grande Jogo!